quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A Vida religiosa e os desafios na formação

                A Vida religiosa e os desafios na formação

A vida religiosa é um caminho de busca para viver a santidade nos traços de Cristo, o Direito Canônico nos ensina que a “vida religiosa, enquanto consagração da pessoa toda, manifesta na Igreja o maravilhoso matrimônio estabelecido por Deus, sinal do mundo vindouro. Assim, o religioso consuma sua doação total de si mesmo como sacrifício oferecido a Deus, pelo qual sua existência toda se torna contínuo culto de Deus na caridade” (Cân 607). Daí, dentro dessa visão, a vida religiosa torna-se uma opção de vida consagrada a Deus e na vivência dos votos evangélicos de castidade, pobreza e obediênci, vivendo no ideal de vida comunitária. Atualmente, esse estilo de vida vem passando por situações difíceis que chamamos de “crise na vida religiosa” e uma das grandes dificuldades é com relação à diminuição das vocações para a vida religiosa. Surgindo tais questionamentos: Como defini, hoje, para os vocacionados a vida religiosa? Como a pastoral vocacional deve trabalhar o sentido da vida religiosa? A vida religiosa está condizendo à realidade contemporânea? As ordens e congregações não deveriam passar por uma renovação?
Ora, se as vocações para a vida religiosa diminuiu e não se tem atrativo para reconquistar os vocacionados, acredito que não teremos resposta definida para responder aos questionamentos, mas termos teorias que devem ser repensadas e se ter a ousadia  de ultrapassar os limites institucionais, até porque a vida religiosa está além da instituição, ela é um estado de vida para fazer uma experiência de Cristo, no sentido evangélico. O Papa Bento 16 nos diz que:

As pessoas consagradas são chamadas de maneira particular a serem testemunhas desta misericórdia do Senhor, na qual o homem encontra a sua salvação. Eles mantêm vivo a experiência do perdão de Deus, porque têm a consciência de serem pessoas salvas, de serem grandes quando se consideram pequenos, de se sentirem renovadas e envolvidas pela santidade de Deus quando reconhecem o próprio pecado. Por isto, também para o homem de hoje, a vida consagrada permanece uma escola privilegiada da "compunção do coração", do reconhecimento humilde da própria miséria, mas permanece uma escola de confiança na misericórdia de Deus, em seu amor que nunca abandona. Na realidade, quanto mais nos aproximamos de Deus, ficamos mais perto Dele e nos tornamos mais úteis aos outros. As pessoas consagradas experimentam a graça, a misericórdia e o perdão de Deus não somente para si, mas também pelos irmãos, sendo chamados a levar no coração e na oração as angústias e as expectativas dos homens, sobretudo daqueles que estão longe de Deus. Em particular, as comunidades que vivem na clausura, com o seu específico compromisso de fidelidade no "estar com o Senhor", no "estar sob a cruz", realizando freqüentemente esta função vicária, unida a Cristo pela Paixão, tomando sobre si os sofrimentos e as provas dos outros e oferecendo tudo com alegria para a salvação do mundo.[1]

Assim, a vida comunitária deve ser uma experiência de Jesus, o consagrado não deve fazer da vida religiosa um refúgio pessoal, a vida comunitária deve ser uma experiência de Jesus, e o maior desafio é transmitir aos vocacionados o testemunho de vida que os consagrados vivem, na certeza de que acreditam neste caminho como via para viver o evangelho e ser testemunho nos dias atuais. Sabemos, que diante dos desafios a vida religiosa passa por transformação em busca de uma nova identidade, não que ela está desviando do sentido maior: o Cristo. Mais que precisa definir sua identidade para lidar com os desafios da vida pós-moderna, principalmente o ativismo, e subjetivismo que geram o individualismo na vida comunitária.
Com o ativismo na vida religiosa a comunhão fraterna torna-se um fingimento na convivência, o consagrado que entra no ativismo sempre encontra um motivo para colocar a comunidade em segundo plano, afirmando que tem muitos afazeres a seres realizados, dando sempre motivos para está ausente nos momentos comunitários. Outro problema é o Subjetivismo na vida religiosa que gera um individualismo, caindo simplesmente no eu e esquecendo o ideal de viver e trabalhar em comunidade. Com as mudanças dos tempos e culturas, os jovens são condicionados a não aceitarem um estilo de vida estrutural que não vem acompanhando o processo da história, os jovens sentem necessidade de crescerem com autonomia, numa vida mais independente e a vida religiosa não propõe esse estilo de vida, acredito que está e uma das razões com que cresce o número de vocações diocesanas e diminui na vida.
O grande desafio para ser vencido na vida religiosa está nas casas de formação com a defasagem e falta de formação dos próprios formadores, grande número de formadores despreparados são incapazes de lidar com as situações dos formandos, principalmente na dimensão sexual/afetiva esquecendo que o formando está no processo de descoberta de si.  Se formos esperar vocacionados prontos, mandados perfeitamente do céu, estamos enganados, a formação deve ser um espaço de experiência e descoberta, e o formador pelo menos deveria ser um facilitador/amigo do formando permitindo ao formando a crescer com integridade, e não um opressor que impede uma caminhada com liberdade. Justamente, isso que vai gerando nas comunidades religiosas uma tensão que não cria laços comunitários, ou seja, se o formador não passa uma imagem de con-irmão na comunidade, como o formando vai agir na vida comunitária? 
A vida religiosa para o consagrado e para o formando teve ser um sinal de Deus, ambos devem seres sementes na comunidade religiosa e seres sinais de testemunho para a comunidade interna e externa, é na comunidade religiosa que o vocacionado/formando vai se descobrir e deixar ser descoberto, não no sentido que o outro vai entrar na vida particular do outro, mas permitir que o outro faça uma experiência nas dimensões: espiritual, apostólica e comunitária. Sendo uma comunidade aberta, um lugar que acolha o outro, onde se faça uma experiência de Deus. Daí, vejamos que:

“Sem a profunda liberdade interior, não há vocação, não há formação, não há ação apostólica. Alcançar e viver este DOM que sendo dom não dispensa o nosso empenho é o objetivo chave e o critério irredutível de toda vida cristã, da qual a vida religiosa e a sacerdotal não são senão algumas faces entre outras muitas, necessárias toas e cheias de sentido, na caminhada fraterna dos homens para Deus. É neste contexto e perspectiva que importa situar e orientar hoje a questão das vocações à vida religiosa”.

Os votos devem ser uma resposta de vida, uma forma de liberdade e doação, na certeza que a vida religiosa consiste em seguir a Cristo de um modo diferente diante dos desafios do mundo atual. E os conselhos evangélicos devem ser sempre “em razão da caridade a que conduzem (...). Daqui nasce o dever de trabalhar na implantação e consolidação do reino de Cristo nas almas e de o levar a todas as regiões com a oração ou também com a ação, segundo as próprias forças e a índole da própria vocação. (Lumem Gentium, 40)
Contudo, diante do ativismo e do subjetivismo e de tantos outros desafios é importante saber que o ideal comunitário tem sua razão, na certeza de que é Cristo que rege seus membros no caminho da salvação. Portanto, são muitos os desafios e principalmente o da diminuição de vocações para a vida religiosa, porém, devemos ter a certeza de que as dificuldades não são motivos para desanimar, ao contrário, em ter forças para lutar e continuar os ideais da vida religiosa nos caminhos de Cristo Jesus, dentro do ideal de cada fundador que acreditou na vida religiosa como meio para viver o evangelho. Até porque ao analisar o contexto da história da igreja, a vida religiosa teve e têm um papel importantíssimo e enriquecedor, foi ela que praticamente deu sentido ao seguimento ao projeto evangélico anunciado por Cristo, como por exemplo: Nos primeiros séculos com o surgimento da vida monástica. Na Idade Média com o surgimento das Ordens Medicantes e na Idade Moderna com as Congregações.





             












[1] AZEVEDO, Marcello de Carvalho. Os religiosos, vocação e missão- um enfoque exigente e atual. Ed. 4º. Edição Brasileiras.Rio de Janeiro,1986.

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